Doeu, mas eu quis.
(E quando eu percebi que ir embora era fisicamente impossível, procurei meu lugar pelo quarto, e aceitei o que viria depois)
Você não merece. Não merece meu jeito, meu gosto, meu tato, meu amor, minha falação desesperada, meu espernear pela casa, meus bicos, minhas sobrancelhas franzidas por pouca coisa (por quase nada) e nem meus passos barulhentos pelo chão da sua casa. Não merece que eu atrapalhe seus vizinhos, sua vida, e suas coisas e nem minha quietude voluntária, meu jeito próprio de respeitar seus barulhentos silêncios. Você não merece meus fins de semana, meus dias normais, minhas horas, meus minutos gastos, minha maquiagem barata que não esconde o quanto eu sorrio pra você (de olheira a olheira). Você não merece, mas eu te amo como um bezerro. Não merece o quanto me fez uma pessoa melhor, não merece as mudanças na minha vida, os livros tirados do chão na esperança de que de repente você chegue (quando sou sempre eu que vou) e esse meu ir sempre assim tão de bom grado, tão feliz, tão plena, tão completamente sua e não merece, esse ter me tornado tão pouco do resto das coisas.
Mas aí você vira para o lado, e reclama do mau tempo, do ar condicionado, do trânsito, do Rio, da vida e de mim, e depois abre seus braços em que cabem o mundo e eu fico tão pequena, que você merece tudo.
E passa a merecer o tanto que eu tinha guardado e que ninguém nunca via.
E eu então mereço seu sorriso, seus braços, seu jeito, seu silêncio, suas reclamações e (seu adorável) mau humor matinal e seu conceito de tempo, de vida, de amor, e por causa disso tudo, eu não quero mais amor nenhum.
Não sei se posso chamar disso e mesmo que a gente, ou isso que eu sinto não tenha nome, eu prefiro.
É tão novo, tão bom, tão pleno e é seu.
O amor se fez possível, e que chegue.
Será merecido. E bem vindo.
Comentários
Postar um comentário