Vou-me embora para o shopping. Não me esperes.
Chego tarde.
Preciso largar o nosso lar por momentos e visitar um absurdo qualquer, que não seja muito analisável e questionável, que não represente nada emocional.
È época de saldos e apetece deitar fora o estúpido do dinheiro que de qualquer
forma parece sempre pouco e nos faz andar a matar neurónios para arranjar forma
de fazer mais e mais.
Vou-me embora em busca das pessoas com olhar perdido nas montras e mãos
pesquisadoras em busca da qualidade dos tecidos e das etiquetas.
Vou-me embora para sentir o cheiro nojento da gordura.
Vou-me embora para as escadas rolantes, para ser levada e elevada, para sentir o motor
aumentar a velocidade e pensar que cresço mais uns centímetros.
Vou-me embora e só volto lá para a meia-noite que é a hora que a mesquita comercial encerra, hora em que acabará em terapia breve, fútil, mas eficaz.
Vou-me embora para adorar sacos de papel com cordinhas a fazer de pegas
que me dão mesmo que só compre uma coisinha pequenina.
E compro várias coisinhas pequeninas para ter sacos distribuídos pelas duas mãos e me sentir no rodeo drive.
Se queres que te compre algo, manda-me uma mensagem.
Vou-me embora, qual Alice, para o país das maravilhas fúteis.