Seus olhos estão fechados e, mesmo assim, consegue ver tudo que acontece em volta. pessoas conversando, os animais correndo, as brincadeiras e os sorrisos numerosos. O sol brilhando intensamente quase ofusca a cena toda. Sente o chão detalhadamente. É terra. Uma sensação gostosa e morna, acolhendo perfeitamente cada dedo quando tenta andar ou afundar os pés de vez. Está feliz, com o coração saltando pela boca, mal controla a alegria. Essa é você. Sempre foi. Sua vida, suas expectativas, seus sonhos, tudo seu. E, então, ao abrir os olhos, numa tentativa louca de aproveitar o máximo possível, percebe-se só. Ninguém na frente, nos lados ou atrás. Nenhum objeto, nenhum sentimento. Sequer um sinal de luz. Tudo estava escuro. Resolve não andar para evitar prováveis quedas. Não consegue enxergar nada, melhor não arriscar. A única mão que ainda esperava ter por perto, para poder se agarrar e pedir socorro, também sumiu. O desespero é seu companheiro, o que sobrou, ficou e tomou conta de tudo, do inteiro e também dos pedaços. Tremores, arrepios, lágrimas, suores, dor... muita dor. Pânico, medo, angústia, frustrações. Inúmeras. Não dá mais para agüentar.
Mas essa é você.
Continua sendo você. A mesma.
Não, não, não. Na verdade, essa sou eu.